O presidente da Associação Empresarial de Viana do Castelo (AEVC) dá conta das preocupações dos empresários da região. Para além da questão de saúde, os responsáveis das empresas “estão preocupados com o futuro das suas empresas”.
Manuel Cunha fala dos vários apoios disponibilizados pelo Governo, mas defende a aplicação de outros apoios, que passam pelo comércio e serviço e para as micro-empresas. Numa carta enviada ao ministro da Economia, entre outros pedidos, queriam a isenção da “TSU as empresas que, durante esta crise, não necessitem de recorrer ao regime de lay off ou a outro regime de suspensão de contratos de trabalho”.
Com o projeto de comércio digital em andamento, o líder da AEVC dá conta que na próxima segunda-feira haverá uma reunião, de forma digital, para que possam pôr em marcha a iniciativa. O objetivo é criar “uma ferramenta mais simples e que responda às imediatas necessidades”.
Com os serviços da AEVC em funcionamento, são muitas as solicitações de esclarecimento por parte dos empresários da região. Manuel Cunha refere ainda o acompanhamento da situação e a realização de vários contactos com dirigentes empresariais e políticos.
A Aurora do Lima (AAL): Como é que a Associação Empresarial está a acompanhar a pandemia do novo coronavírus?
Manuel Cunha (MC): Para além de acompanhar a evolução desta pandemia ao minuto e com muita preocupação, pelo enorme impacto na saúde das pessoas, na vida em sociedade, para alguns maus hábitos e excessos dos países do sul da Europa, e nas empresas que representamos, a imensa maioria micro e pequenas empresas, a AEVC está fortemente estimulada e empenhada em cumprir a sua Missão – defender os legítimos direitos e interesses das empresas associadas de todos os sectores de atividade e em todos os concelhos onde estatutariamente intervimos. Nestes momentos, necessariamente de maior colaboração, cooperação e solidariedade, o associativismo reafirma e reforça o seu papel e a sua importância. Os serviços da AEVC estão em pleno funcionamento para informar e apoiar os associados na operacionalização e implementação das medidas de apoio já disponibilizadas. Como não caminhamos solitariamente, temos abertos canais de comunicação com estruturas de cúpula e associações de referência do movimento associativo empresarial, nomeadamente a CCP e a AEP, e com autarquias da região, predominantemente com a Câmara Municipal de Viana do Castelo.
AAL: Em que medida os empresários vianenses estão preparados para o “tsunami” que esta crise sanitária vai provocar?
MC: Pela incerteza e magnitude dos seus efeitos, onde não nos atrevemos a definir cenários, ninguém está preparado para uma crise como a que vivemos. A crise é global e sem exceção afeta pessoas e empresas em todo o mundo. De momento, terão de ser minimizados os impactos desta crise. Como cidadãos e empresários, ainda que em diversas realidades, cumprindo as recomendações e obrigações decorrentes do estado de emergência, analisando e decidindo sobre o acesso ou não aos apoios já disponibilizados, adaptando a organização do trabalho e funcionamento da sua empresa, transmitindo à sua Associação Empresarial dificuldades e constrangimentos. A AEVC, com o seu historial, legitimidade e capacidade operativa, é e terá de ser uma estrutura fundamental na operacionalização do acesso às medidas de apoio e em tempo oportuno, que queremos e desejamos que seja breve, em todo o processo da retoma que terá de envolver empresários e sua Associação, Governo e autarquias. Colaborando, cooperando e envolvendo – se na execução de necessários programas de relançamento e estímulo da atividade económica, com especial incidência nos sectores do comércio e serviços; alojamento turístico; restauração e similares.
AAL: Muitos comércios e serviços já estão encerrados há algumas semanas. Há algum tipo de apoio?
MC: Muitos dias antes da entrada em vigor dos diplomas que decretaram o estado de emergência e as medidas de execução, já muitas empresas tinham antecipado o encerramento e a obrigatoriedade da adoção do teletrabalho nos casos em que a função do trabalhador o permite. Estão disponíveis ou a disponibilizar a muito curto prazo um conjunto de medidas de apoio às empresas e de manutenção dos postos de trabalho. Referimos concretamente a linhas de crédito; obrigações fiscais e contributivas; lay off simplificado; moratória de créditos; rendas não habitacionais. Mas é necessário mais, muito mais. Reafirmo que os serviços da AEVC estão em pleno funcionamento para informar e apoiar as empresas na operacionalização destas medidas. São inúmeras as solicitações. Em matéria de comunicação e a título de exemplo – em março enviamos 15 newsletters aos nossos associados.
AAL: A AEVC está a fazer alguma monitorização?
MC: Monitorizamos as empresas em funcionamento, horário e tipo de bens que comercializam ou serviços que prestam. Reunimos e conversamos com os autarcas, nomeadamente com presidente e vereadores da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Conversamos com dirigentes do movimento associativo empresarial.
AAL: Quais os setores que serão mais atingidos por esta situação?
MC: A atividade económica, na sua generalidade, está a sofrer tremendos impactos negativos. Em diferentes graus e em diferentes setores. Desde o turismo (todo o canal HORECA, agências de viagens, animação turística, transportadoras) ao comércio, passando pelas empresas exportadoras (automóvel, metalurgia, calçado, têxtil) com interrupção dos abastecimentos, e acabando nas empresas prestadoras de serviços. Atentemos à importância destes setores na economia da nossa região., num momento em a atividade comercial na Europa está colapsada e a Espanha, nosso vizinho e principal cliente, está de quarentena geral.
AAL: Tem falado com os associados. Quais as preocupações mais prementes?
MC: Claro que sim. Mas não só com associados. Também com potenciais associados, dirigentes associativos, autarcas, profissionais de outros setores, cidadãos e cidadãs da nossa terra. Os associados, para além da crise sanitária, estão preocupados com o futuro das suas empresas. As medidas de apoio não são a fundo perdido. Terá de continuar a ser pagar uma quota parte da remuneração dos trabalhadores. Serão o adiar de algumas obrigações, será o endividamento, ou seu aumento, perante entidades bancárias. A situação será tanto mais grave quanto maior for o tempo que demorar até à retoma da atividade. Todos queremos que seja breve.
AAL: Juntamente com a autarquia pediram medidas mais específicas de apoio ao ministro da Economia. Que medidas são essas? Pode exemplificar?
MC: A AEVC – Associação Empresarial de Viana do Castelo, representativa de muitas empresas da região, a imensa maioria micro e pequenas empresas, ainda que genericamente apoie as medidas que estão a ser apresentadas, entende e defende que são insuficientes ou restritivas e que o incomensurável esforço que tem de ser realizado não está a ser solidariamente partilhado por todos.
Mas é necessário mais, muito mais:
1-São urgentes medidas para o Setor do Comércio e Serviços;
2-Os sócios gerentes de Micro- Empresas precisam de uma resposta rápida e eficaz no sentido de serem apoiados pela perda da retribuição ou rendimento empresarial;
3-Existem setores que devido à especificidade da sua atividade e do seu regime contributivo ficam excluídos da quase totalidade, ou mesmo totalidade, dos apoios às empresas e da manutenção dos postos de trabalho, como por exemplo o sector das pescas e da agricultura;
4-As moratórias de créditos vão implicar que aumente o valor da dívida, com a inclusão dos juros não pagos durante o período de suspensão, e que simultaneamente também aumente o valor dos juros associados ao crédito como consequência do aumento do seu montante. Tal não poderá acontecer. Os Bancos e as Sociedades de Garantia Mútua terão de assumir a sua quota parte no impacto desta crise;
5-Os empréstimos a conceder às empresas deverão ter uma taxa de juro zero;
6-Urge adequar os mecanismos de obtenção dos apoios às medidas agora tomadas, de tal forma que o delay na disponibilização dos formulários seja eliminado bem como o preenchimento e/ou a junção de documentos considerados obrigatórios e que por força do momento que vivemos não tem como ser obtidos;
7-Isentar da TSU as empresas que, durante esta crise, não necessitem de recorrer ao regime de lay off ou a outro regime de suspensão de contratos de trabalho;
8-Acelerar o pagamento de projetos cofinanciados pelo Estado Português ou por Fundos Europeus;
9-Pagamento imediato de todas as dívidas em atraso do Estado a fornecedores privados.
AAL: Os comércios não essenciais estão todos encerrados em Viana?
MC: Independentemente do setor de atividade, todas as empresas são essenciais. Porque criam riqueza, porque criam postos de trabalho. Ora produzindo, muitas delas exportando, ora comercializando bens ou prestando serviços para satisfazem necessidades de consumidores e de empresas. As empresas vianenses e dos outos concelhos onde a AEVC estatutariamente intervém – Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença e Paredes de Coura – estão a cumprir escrupulosamente as recomendações da DGS e as medidas de execução da declaração do estado de emergência decretado em 18 de março e agora prorrogado.
AAL: Muitos restaurantes e mercearias optaram pelo sistema de take away e entregas ao domicílio. São medidas apoiadas por vós? Que outras sugestões podem fazer?
MC: É a demonstração da capacidade de adaptação e resiliência das nossas empresas. Atentos a essa realidade e procurando divulgar e informar a comunidade desse serviço de take away e/ou delivery, no dia 23 de março, através das redes sociais e nosso site, disponibilizamos listagem, permanentemente atualizada, dos espaços comerciais e de restauração e similares que estão abertos e que disponibilizam esse serviço. Estão listadas mais de 150 empresas.
AAL: Quando isto terminar, fala-se que as coisas, incluindo no setor empresarial, serão diferentes. Que pensa disso?
MC: Diferentes serão sempre. Nunca nenhum de nós viveu uma crise como esta, nem sabemos qual será o seu real impacto. Haverá assuntos que estarão na ordem do dia. O modo de funcionamento das empresas e a organização do trabalho; novas formas de ensino e de aprendizagem; a compatibilização do comércio em estabelecimento fixo e digital; mobilidade e ambiente; dependência externa de equipamentos e artigos essenciais; o papel da Europa.
AAL: Como está o projeto de comércio digital que pretendiam implementar? Seria um ótimo aliado para esta altura.
MC: O projeto está a ser executado de acordo com a sua calendarização. Será uma ferramenta extremamente importante para as empresas vianenses. Na próxima segunda-feira, dia 06 de abril e por videoconferência, com o objetivo de criar uma ferramenta mais simples e que responda às imediatas necessidades, haverá uma reunião todos os parceiros envolvidos neste projeto: consórcio técnico, Câmara Municipal de Viana do Castelo, a Associação Empresarial de Viana do Castelo e a Associação Economia Digital.
Terminando, permitam –me transmitir três mensagens: Neste momento de crise, nós que temos uma casa, uma família, não podemos em momento algum esquecer os que vivem sós, os mais vulneráveis, os que dependem da solidariedade. Para todos estes, temos de dar uma resposta urgente e adequada. Considerando que temos de encontrar outras formas de recolha de bens essenciais, para além das tradicionais campanhas de angariação, o Banco Alimentar de Viana do Castelo, a Câmara Municipal de Viana do Castelo e a Associação Empresarial de Viana do Castelo apelam a todos/as os/as empresários/as para que colaborem com o Banco Alimentar de Viana do Castelo. ( voluntariado@cm-viana-castelo.pt).
Uma segunda mensagem, de reconhecimento e agradecimento pela atitude, corresponsabilização e empenho na minimização dos impactos desta crise, aos empresários e seus trabalhadores; profissionais da saúde; forças e serviços de segurança; voluntários; forças militares; CVP; corporações de bombeiros; jovens estudantes; colegas da direção e trabalhadores da AEVC.
Finalmente, uma mensagem de esperança e de solidariedade para os nossos associados e empresários da região. Contem connosco, contem com a AEVC. Para todos os cidadãos da nossa região, desejo muita saúde e uma Santa Páscoa no recato do lar e com o núcleo mais restrito das vossas famílias.
Fonte: Aurora do Lima